João Aramis escreve: Comercializador varejista nos holofotes do setor elétrico

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Publicado

01/Abr/2022 15:20 BRT

Por: João Aramis*

Já faz parte do cotidiano dos brasileiros a compra de produtos e serviços pela internet. Somos um dos países com os maiores índices de crescimento do e-commerce, com um aumento de quase 35% das transições online em 2021, quando comparado com o ano anterior, de acordo com os estudos do MCC-ENET.

Evidentemente que esse “novo” hábito digital foi acelerado pela pandemia, que forçou as empresas de soluções a se reinventarem para chegar até o consumidor de uma forma mais simples, segura e econômica. Um tripé poderoso que dispensa grandes investimentos em marketing quando bem estruturado.

Essa realidade, que também será acelerada pelas novas tecnologias de 5G e a promissora experiência do metaverso em nossas vidas, está muito próxima de chegar no mercado de energia. Isso porque o arcabouço regulatório brasileiro está próximo de passar pela tão esperada transição do “se” para “quando” da abertura do mercado. Com a aprovação do PL 414/2021, que já tramita na câmara dos deputados, vamos nos aproximar da realidade de outros países como EUA, Austrália, Nova Zelândia e boa parte de países Europeus, que já deram o poder da escolha dos fornecedores de energia para os seus consumidores, em alguns casos há mais de duas décadas. Com isso, vamos criar de fato o mercado de varejo de energia no Brasil, beneficiando principalmente os consumidores de menor porte, como comércio e pequenas indústrias, que hoje, em função de requisitos regulatórios, não conseguem trocar de fornecedor no chamado mercado livre de energia. Pela redação atual do PL 414, todos os consumidores serão positivamente impactados, tantos os do grupo B (baixa tensão) quanto os do grupo A (alta tensão), sendo que estes serão obrigatoriamente modelados num agente varejista quando a demanda contratada foi igual ou menor a 500 kW.

Essa remoção de barreiras à livre competição não vai somente proporcionar economia e redução de custos para os consumidores finais, mas vai marcar o início de um ciclo virtuoso para reduzir a pressão sobre o índice oficial da inflação, como também gerar milhares de empregos e oportunidades aos diferentes players da cadeia de geração, transmissão, distribuição, comercialização e provedores de soluções em energia. Já vivenciamos essa realidade no mercado de telefonia brasileiro e estamos passando pelo mesmo movimento com as fintechs, que estão revolucionando o mercado de investimentos no Brasil.

O mercado do varejo de energia será criado, mas isso não significa que será uma novidade. Não? Como assim? Na realidade o setor vai passar por amadurecimento e fortalecimento das regras. A figura do comercializador varejista de energia já existe no Brasil há quase 9 anos, quando foi criado pela Resolução Normativa da Aneel 570/2013. Assim como os bebês, que começam a engatinhar para depois andar e correr, o varejista brasileiro está próximo de ganhar fôlego e “energia” com uma regulação mais clara e segura, na medida em que um cronograma da abertura do mercado será publicado, as soluções serão endereçadas para tratar os contratos legados das distribuidoras e as figuras dos agregadores de carga e do supridor de última instância (SUI) serão criadas.

Se o varejista de energia não é tão novidade assim, o que devemos esperar de novo então? Produtos! Na realidade novos produtos de energia, que vão amadurecer com o passar do tempo. Devemos encontrar num futuro próximo a oferta de pacote de soluções, “combos” de energia com o mix de outras soluções (de energia ou não), tudo aquilo que converse com o consumidor de uma forma simples, segura e econômica.

As plataformas digitais e os comparadores de preços também devem se popularizar. Vamos passar por uma fase de consolidação de mercado, em que grandes players devem criar e buscar parcerias e empresas sólidas do segmento, que jamais concorreram com empresas de outros mercados, vão se tornar concorrentes nesse promissor mercado. Ahh, não devemos passar ilesos das dancinhas do Tik Tok e do Instagram, afinal as empresas vão ter que investir muito em comunicação, educação e conscientização para “tocar” o seu futuro cliente.

*João Aramis é presidente da Comerc Futuro, a comercializadora varejista de energia do Grupo Comerc. Antes disso, atuou como diretor comercial na empresa de gestão e consultoria do Grupo Comerc.

Cada vez mais ligada na Comunidade, a MegaWhat abriu um espaço para que especialistas publiquem artigos de opinião relacionados ao setor de energia. Os textos passarão pela análise do time editorial da plataforma, que definirá sobre a possibilidade e data da publicação.

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