Por: Mariana Granata*
O segundo semestre do ano inicia com a perspectiva de aquecimento do mercado de energia solar. A expectativa é que os preços dos equipamentos para a instalação de sistemas solares caia, ao mesmo tempo em que as condições de financiamento ao consumidor tendem a ficar mais acessíveis.
Até meados de junho, segundo a consultoria Greener, foram instalados mais de 311 mil sistemas de geração distribuída (GD), com mais de 3,47 GW de potência instalada, que se uniram ao total de 1,97 milhão de sistemas e mais de 21,4 GW. O resultado positivo ainda reflete as solicitações de acesso feitas em 2022, antes da entrada em vigor do marco legal do setor.
Mas o cenário para as vendas seguia desafiador, com preços de insumos em alta e a Selic na mesma trajetória. E é esse quadro que, aparentemente, está começando a mudar.
O preço do polissilício, principal matéria-prima das placas solares, caiu de US$ 30,80/kg em fevereiro para US$ 12,62/kg em junho, uma redução de 59%, segundo dados da Bernheuter Research.
O polissilício, produzido a partir do silício, é responsável por cerca de 60% do custo de módulos fotovoltaicos, que, por sua vez, respondem por 38% a 50% do preço final de um sistema fotovoltaico, segundo a consultoria Greener.
Os preços do insumo vinham apresentando muita volatilidade desde o ano passado; e o novo pico de alta, após o Ano Novo Chinês, refletiu o aumento da demanda por silício para a produção de wafers. Agora, os preços estão reagindo ao aumento da capacidade de produção na China, que já leva a um maior nível de estocagem.
A queda do polissílicio, que tende a baratear o custo dos equipamentos vendidos ao consumidor, chega ao mesmo tempo em que o ciclo de alta da Selic, a taxa básica de juros, iniciado em 2021, parece estar chegando ao fim.
A ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), de agosto, anunciou a redução da taxa básica em 0,5 ponto percentual, de 13,75% para 13,25% ao ano. Foi o primeiro corte na Selic em três anos.
A pesquisa semanal Focus, do Banco Central, que reúne uma média das expectativas econômicas de vários agentes do mercado, de 11 de agosto, mostra que os analistas projetam a Selic a 11,75% a.a. em 2023 e a 9% a.a. em 2024. Quatro semanas antes, as projeções eram de 12% e 9,5%, respectivamente.
Além disso, o PIB do primeiro trimestre, divulgado no início de junho, mostrou crescimento de 1,9%, ficou acima do esperado e já levou a revisões para cima do crescimento da economia este ano.
Se o cenário de curto prazo já é de vento a favor, no longo prazo, ele será mais ainda.
Um estudo do Portal Solar apontou que a demanda extra por energia decorrente da eletrificação da frota de veículos e da produção de hidrogênio verde deve movimentar o mercado de energia solar em R$ 2,2 trilhões até 2050.
Segundo o estudo, a energia solar deverá ser protagonista nesse cenário de demanda adicional, por atender a exigências ambientais e por oferecer a possibilidade de geração de energia elétrica perto do local de consumo. No caso do hidrogênio verde, o Brasil tem potencial para se tornar o maior produtor do mundo.
Para atender a demanda, a energia solar terá de adicionar cerca de 540 GW em sistemas fotovoltaicos, via geração centralizada, distribuída e também aplicações de baterias para armazenamento.
A transição energética total da atual frota de veículos circulares no Brasil traria uma demanda adicional de 403 terawatts-hora por ano, volume próximo da capacidade total de geração de energia do Sistema Interligado Nacional (SIN).
Segundo a Associação Brasileira de Veículos Elétricos (ABVE), de 2021 para 2022, a frota no país cresceu 63,5% para 126 mil. No primeiro trimestre de 2023, esse número aumentou para 140 mil carros em circulação. É um mercado ainda pequeno, com muito espaço para a expansão, e desafios na mesma intensidade, com investimentos em infraestrutura, como pontos de recarga. Mas que vai trazer um boom no mercado de energia que talvez ainda não esteja sendo dimensionado – a eletrificação da frota de veículos é uma tendência mundial.
A energia solar segue sendo a fonte que mais cresce no País e essa tendência permanece sólida no longo prazo. Ainda estamos falando de 2,2 milhões de unidades consumidoras dentro de um universo de 85 milhões.
Segundo a Absolar, em junho de 2023, a energia solar fotovoltaica respondia por 14,8% da matriz elétrica brasileira, atrás apenas da hídrica, com 50,8%. A participação da energia eólica estava em 12%. Para 2050, estudo da consultoria Bloomberg New Energy Finance, estima que cerca de 32% da energia nacional deverá vir do sol, enquanto a hidrelétrica cairia para 30%. A eólica, por sua vez, subiria para 14,2%.
Mariana Granata é superintendente de Solar do banco BV
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