Opinião da Comunidade

Camila Maia e Rodrigo Polito escrevem: Os bastidores do Enase 2022

Camila Maia e Rodrigo Polito escrevem: Os bastidores do Enase 2022

 

Por: Camila Maia e Rodrigo Polito*

Depois de três anos, o setor elétrico voltou a se reunir presencialmente no Rio de Janeiro para mais uma edição do Encontro Nacional de Agentes do Setor Elétrico (Enase), promovido pelo Canal Energia e pela Informa. A famigerada modernização do setor deu o tom das conversas, com defesas inflamadas da abertura do mercado e de investimentos em inovação, e o debate político em um ano eleitoral também teve seu espaço, em meio ao entusiasmo com a – então iminente – privatização da Eletrobras.

A programação foi intensa, com muitos painéis recheados de autoridades, executivos e especialistas do setor. O “problema” (positivo, no caso) era uma questão física: as pessoas não conseguiam estar em dois lugares ao mesmo tempo, e era grande a vontade de ficar do lado de fora, apreciando um cafezinho e retomando o contato com os colegas depois de tanto tempo de isolamento social. Com certeza, foi um Enase de reencontros, e eventuais imagens que mostrem o auditório esvaziado não correspondem a um evento desanimado, pelo contrário.

O evento começou com um discurso gravado do Ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, que pediu a atuação conjunta de todos na busca da “justeza tarifária”, confirmando os esforços do governo em combater a inflação, que prejudica os esforços do presidente Jair Bolsonaro de buscar a reeleição. A fala deu a deixa para que “o cafezinho” discutisse intensamente os efeitos potenciais da redução do ICMS sobre a conta de luz e os combustíveis. Na sequência, a secretária-executiva da pasta, Marisete Pereira, falou via videoconferência sobre a importância da aprovação do Projeto de Lei 414, que trata da modernização do setor.

Apesar da defesa do governo e de alguns executivos sobre a necessidade de aprovação do PL 414 antes do recesso parlamentar do meio do ano, o clima entre os agentes era de consternação sobre o tema, diante da perspectiva de que será praticamente impossível obter a votação antes das eleições em outubro. Depois disso, quem sabe? “Se ninguém mais falar em Brasduto, pode até passar”, disse um interlocutor em uma conversa, reproduzindo uma fala que circulava entre os agentes presentes no evento.

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Se o alto escalão do poder executivo não compareceu presencialmente – para decepção de muitos -, o debate não deixou a desejar.

Passada a crise hídrica, quem deixou de ocupar os holofotes foi o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). O diretor-geral da instituição, Luiz Carlos Ciocchi, brincava: “Agora ninguém mais quer falar comigo”. Nesse ponto, os agentes se felicitavam pela superação da crise que quase levou a um apagão, mas não deixavam de discutir as consequências das medidas tomadas para isso, inclusive o saldo do leilão emergencial de reserva de outubro do ano passado, que contratou usinas caríssimas, quase todas com atrasos em suas obras, e que estão no centro de mais uma polêmica.

A diretora-geral substituta da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Camila Bomfim, foi aplaudida e muito elogiada por todos pela sua “coragem” em revogar a cautelar aprovada pelos seus colegas diretores, permitindo que a Âmbar Energia, da J&F, substituísse temporariamente quatro usinas contratadas no leilão pela termelétrica Cuiabá, também pertencente ao grupo.

O presidente do conselho da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), Rui Altieri, foi outro destaque, com um discurso duro no qual exigiu o cumprimento do edital do leilão em questão, o que foi visto como uma sinalização de sua insatisfação com a cautelar.

Do lado de fora, Altieri e Bomfim eram constantemente elogiados nas rodinhas de conversa, nas quais os agentes do setor brincavam que não deveria ser novidade o cumprimento de editais depois de tantos anos de leilões consolidados no país.

Assim como o governo, também estiveram ausentes do evento representantes da Eletrobras, mas para isso havia uma justificativa muito simples: os últimos dias da corrida pela privatização da companhia. O entusiasmo dos agentes com o assunto era grande, assim como as discussões sobre o ritmo da tal descotização, e os efeitos que vai produzir nos preços de energia.

Mas isso é assunto para o próximo Enase.

*Camila Maia e Rodrigo Polito são jornalistas da MegaWhat

Cada vez mais ligada na Comunidade, a MegaWhat abriu um espaço para que especialistas publiquem artigos de opinião relacionados ao setor de energia. Os textos passarão pela análise do time editorial da plataforma, que definirá sobre a possibilidade e data da publicação.

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